É Preciso Insistir na Reescrita

Ferdinando Casagrande sempre teve o sonho de se tornar escritor.

Aos 12 anos, o paulistano ouviu de uma orientadora vocacional:

“Você jamais vai sustentar uma família com uma carreira dessas, meu filho!”

E se tornou jornalista, uma boa chance de contar histórias e ser publicado, enquanto aprendia mais sobre a arte da escrita.

Deu certo!

Ele fez jornalismo, porque queria ser escritor, e o jornalismo lhe deu a matéria-prima de seu primeiro livro.

E um prêmio logo de cara.

Jornal da Tarde: Uma Ousadia que Reinventou a Imprensa Brasileira foi o vencedor do 1º Prêmio Kindle de Livro-Reportagem.

Perguntado sobre por que escreve, ele foi categórico e poético:

“Os livros são meus companheiros desde que aprendi a juntar mais de duas letras para formar uma palavra. Sempre fui absolutamente fascinado pelas imensas possibilidades de viagens guardadas entre duas capas. De tanto admirar as histórias, decidi que também eu queria contá-las. E descobri que, enquanto me entrego ao processo de criação do texto, também embarco na viagem da imaginação. Eu escrevo, em resumo, porque me divirto.”

A inspiração para o livro premiado veio da profissão.

Ferdinando trabalhou no “Jornal da Tarde”, vespertino que fez história nas décadas de 60 e 70 e reinventou a forma de se fazer jornalismo naquela época.

“Foi onde iniciei minha carreira, em 1990. Quando soube ele havia sido fechado pelo Grupo Estado, decidi escrever sua história. Entrevistei 47 jornalistas, que trabalharam na redação nos primeiros anos, fiz pesquisas no arquivo do Estadão e livros sobre jornalismo”.

No entanto, ele enfrentou um desafio: lidar com o excesso de personagens em uma história, uma preocupação, já que o periódico durou 46 anos e por lá passaram centenas de jornalistas.

Segundo Ferdinando, isto não era um problema para os leitores que trabalharam na redação, porque os personagens são conhecidos dos profissionais da área.

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No entanto, o público-alvo do livro não era apenas constituído de jornalistas.

“Eu fiquei com medo de que aquele monte de nomes desanimasse os leitores comuns. Então, tomei duas decisões: a primeira foi fazer uma breve biografia de cada jornalista, sempre que eram citados na primeira vez. A segunda foi utilizar um recurso muito usado em thrillers de ficção, a técnica do Page Turning, para prender o leitor na história, de forma que ele não conseguisse desistir do livro”.

Page Turning consiste em terminar cada capítulo com um gancho para o capítulo seguinte.

O resultado de suas escolhas foi o Prêmio Kindle.

Ele acredita que o prêmio chegou porque conseguiu traçar a “biografia” de um jornal, através do olhar de quem o criou e do resgate histórico dos anos em que o jornal estava em circulação.

Para Ferdinando, o maior desafio da “profissão escritor” é fazer as releituras e reescritas necessárias até que o livro fique pronto.

“Nunca me dou por satisfeito, sempre acho que dá para melhorar o texto, e vou adiando a finalização para fazer mais uma leitura e outra e mais outra… No livro sobre o Jornal da Tarde, eu ia acrescentando um número ao nome do arquivo, que foi aumentando a cada releitura. A primeira versão que considerei aceitável para mandar para a leitura de amigos tinha o número 46! Esse é o processo mais doloroso, para mim.”

Questionado sobre seu processo criativo, o autor afirma que escreve mentalmente durante muito tempo antes de colocar as ideias no papel.

“Enquanto dirijo, enquanto cozinho, enquanto caminho… Qualquer atividade que não ocupe o meu cérebro com raciocínio, vira momento de “escrever mentalmente”. Vou montando as frases na minha cabeça, organizando, reorganizando a história, tudo em pensamento… Até que chega um momento em que o troço cresceu tanto, que eu preciso sentar e escrever de fato. Ou vou começar a esquecer. Sento, escrevo e avanço a história até onde dá. Se o texto trava, paro e volto a “escrever mentalmente” até conseguir avançar mais um pouco”.

Ferdinando diz que não encontra a inspiração com muita frequência, que é ela quem costuma encontrá-lo:

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“Às vezes ela some por uns tempos, qual gato vadio que sai pelo bairro e volta só uma semana depois, sabe como é?”

Na questão do Marketing do livro, ele afirma que a vitória no prêmio agitou bastante a divulgação, mas que ainda se trata de uma área que precisa aprender mais.

Para o premiado autor, existem muitas boas histórias, mas o que torna uma história irresistível é quando ela é bem contada.

“É preciso insistir na reescrita e na releitura dos seus originais antes de mandá-los para o ar no KDP. Por mais chato que pareça, é importante. E o maior aprendizado que tirei desse prêmio foi ter aprendido a perseverar. No mundo de hoje, nós somos programados para esperar por resultados imediatos. E nesse mundo da escrita, as coisas têm um tempo para acontecer. Entre o momento em que tive a ideia de escrever o livro e a vitória no Prêmio Amazon de Livro-Reportagem, passaram-se seis anos e meio. Dos quais mais da metade passei apurando e escrevendo cada um dos 567.766 caracteres da minha história. Depois, foi mais um ano procurando uma editora e colecionando respostas negativas. Foram 14 NÃOS de editoras grandes, médias e pequenas. Tive vontade desistir muitas vezes, mas resisti. E o resultado, finalmente, chegou”. 

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