Escrever um conto talvez seja uma das artes mais difíceis da escrita criativa.
O motivo?
Você tem menos espaço para causar impacto.
Julio Cortázar, mestre no gênero, comparava o romance a uma luta de boxe vencida por pontos, e o conto à luta vencida por nocaute.
No entanto, após anos de estudo e aplicação (se você não sabe, escrevo contos sob o pseudônimo de Ugo Marsallo), desenvolvi um método para ser mais efetivo no gênero.
E ele parte do domínio de cinco artes essenciais, a seguir, ilustradas pelas galinhas selvagens de Doug Savage.
— A brevidade é a alma da inteligência.
— Brevidade: alma da inteligência.
— Oh, cale a boca
A Arte da Brevidade
Diferente dos romances, os contos têm uma extensão limitada.
Cada palavra conta.
Uma dica de García Márquez, do seu ensaio “Como Contar um Conto”, que gosto muito, é…
Comece pelo final e trabalhe de trás para frente.
Pense em um final surpreendente e comece a refazer o caminho que direcionou para ele.
Porém, não vá muito longe.
Comece a história o mais próximo do fim possível.
— Como disse Thoreau uma vez: “Idiotas amam citar filósofos”.
A Arte da Concisão
A brevidade se refere ao uso mínimo de palavras ou informações para transmitir uma mensagem.
A concisão tem a ver com a habilidade de se expressar de maneira clara e direta, sem excesso de palavras, personagens, descrições ou informações desnecessárias.
Damon Knight, em seu livro “Creating Short Fiction: The Classic Guide to Writing Short Fiction”, resume bem o conceito:
Um conto é um evento que muda a vida de um personagem.
Todo conto é sobre pessoas que querem algo.
Querer algo gera desejo.
Desejos geram conflitos.
Conflitos geram mudanças.
Então foque em identificar o fio condutor da sua história.
Isso vai te ajudar a evitar os excessos.
— Este hamburguer não era para ter cebolas.
— Considere-o como uma lição sobre a natureza imprevisível da vida.
A Arte da Surpresa
O que torna um conto inesquecível?
Sem dúvida alguma, sua capacidade de espantar, admirar, assombrar, maravilhar, sobressaltar, abalar, chocar, comover, perturbar, emocionar, estranhar, espaventar, fascinar, assustar.
Enfim, o segredo do conto reside no elemento surpresa, seja ele no enredo ou na escrita.
Rubem Fonseca é um mestre do elemento surpresa no enredo.
Seus incidentes incitantes e pontos de virada mantém você tenso e curioso pela leitura.
Jorge Luís Borges é um mestre no elemento surpresa na escrita.
Ele cria imagens grandiosas através de uma linguagem poética incomparável, que te deixa ávido por mais.
No entanto, tanto Fonseca quanto Borges sabem, como ninguém, a direcionar o foco para uma situação ou conflito únicos.
Com isso, desenvolvem profundamente suas histórias, explorando seus aspectos mais importantes.
Isso proporciona ao leitor uma experiência intensa e carregada de emoções.
— A vida é boa.
— Eu não sei. Sou muito ocupado e importante para ter uma vda.
A Arte da Compactação
Aqui entramos na maneira como a história é organizada.
Escrever uma história compacta, seja ela com 300 ou com 7500 palavras, significa mantê-la coesa e coerente, mesmo sem as gorduras.
Um conto, embora mais conciso, ainda pode ter todos os componentes narrativos que esperaríamos de um romance — embora a configuração, o incidente incitante e o clímax possam ser apenas uma ou duas frases.
Ao estudar estruturas narrativas, você vai perceber que o primeiro ato geralmente é uma longa exposição de personagens e da ambientação
O segundo ato começa com o incidente e culmina no clímax.
E o terceiro ato é o desenlace, a resolução das questões dramáticas.
Um bom conto é uma espécie de segundo ato extremamente enxuto.
Se García Márquez recomenda começar pelo final, Kurt Vonnegut é ainda mais específico:
“Comece o mais próximo possível do final”.
A VIDA EM SEIS SIMPLES PASSOS.
REPITA OS PASSOS DE 1 A 7 ATÉ MORRER.
A Arte do Essencial
Conto escrito, hora de cortar o desnecessário.
García Márquez dizia que o escritor deve procurar a essência da história que ele quer contar, identificando os elementos centrais que darão forma e significado ao conto.
E, em seguida, simplificar a narrativa e evitar detalhes desnecessários, garantindo a clareza e a compreensão por parte do leitor.
Escreva sem parcimônia, mas seja um editor implacável.
E como você pode ser o Dirty Harry na hora da edição?
Você deve estar disposto a matar palavras e frases inteiras, se isso significar melhorar a qualidade geral do seu trabalho.
Certifique-se de que cada linha e parágrafo não apenas avancem a história, mas também contribuam para o humor, para a emoção chave ou para o ponto de vista que você está tentando expressar.
— A sociedade do futuro é governada pela paz e pela sabedoria?
— Sim! Você só tem cerca de mais 400 anos de medo e ignorância.
Conclusão
Escrever contos é um desafio que exige domínio de diversas técnicas de escrita criativa.
Ao aprimorar as artes da brevidade, concisão, surpresa, compactação e essência, você estará no caminho para criar contos que não apenas capturam a atenção do leitor, mas também o deixam ansioso pela próxima história.
Se quiser se aprofundar na escrita do gênero, analiso cada uma dessas artes e apresento 10 passos para você escrever contos fabulosos e para publicar um livro de contos por mês no livro “Escrevendo Contos: A Arte de Contar Grandes Histórias Com Poucas Palavras“.
Mergulhe na teoria e na prática da escrita de contos. Desvende o segredo para construir conflitos únicos e aprofunde-se nas cinco artes para “nocautear” seu leitor.