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Você Escreve Para Quê?

A escrita é uma arte. Como o pensamento.
Muitas pessoas pensam que um livro é algo banal, um artifício para satisfazer seus egos.
Os pensamentos giram no mesmo modus operandi.
Vivemos hoje em um mundo raso, no qual as ideias giram em torno de dinheiro, relacionamento, saúde e sexo.
Não por acaso, esses são os gêneros que mais vendem nas livrarias, sejam elas online ou de tijolo e cimento.
Sou um adepto da escrita para o outro e não para o próprio umbigo, meus leitores sabem muito bem disto.
No entanto, quem escreve desta forma hoje enfrenta um paradoxo.
Nunca foi tão fácil escrever e publicar um livro, mas para quem escrever?
E com que objetivo?


A maior parte das respostas gira em torno de ganhar dinheiro e ser bem remunerado por isto.
Escrevo para mim ou para este mundo raso e ansioso pelas mesmas superficialidades de sempre?
Escrevo para o outro, ansioso por dinheiro, relacionamento, saúde e sexo, ou para mim, para tentar superar a barreira desta simploriedade irritante?
Confesso que muitas vezes me dá vontade de escrever para os cães, uma mistura de instinto e emoções inferiores que te compreendem, mesmo que você os deixe um dia inteiro longe de você.
Se você tem um cão, como eu tenho a Andy, você sabe o que estou dizendo.
Infelizmente, eles ainda não sabem ler. E também não adiantaria ser muito profundo.
Pensando nisto, resolvi fazer este post para incentivar autores a se aprofundarem em seus escritos antes de se adequarem às demandas do mundo raso.
Se serei bem-sucedido nisto? Tenho 25% de chances e você vai saber por que agora.
A Cabalá, o corpo de conhecimento místico dos judeus, tem uma história de quatro sábios que adentraram o Paraíso e estiveram diante de Deus.

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Depois dessa experiência transcendente, um deles morreu, o outro ficou louco, o terceiro virou um herege e apenas o último saiu ileso.
Esta história remete também aos níveis de leitura.
Têm leitores que não conseguem ir muito fundo no pomar da escrita, morrem tão cedo quanto experimentam a primeira frase ou parágrafo.
Eles podem até ler seu livro todo, mas não ultrapassam a literalidade, o entendimento raso das palavras e letras encadeadas.
Isso explica, em parte, a quantidade de religiões e igrejas hoje em dia.
Outros ficam presos em suas metáforas.
As imagens que você gera na cabeça deles até trespassam o literal, mas suas mentes estão envoltas em uma espécie de véu.
Dalí não passam, pois a loucura do mundo e de seus próprios pensamentos recorrentes os impedem de ir além.
Existem os leitores que vão um pouco mais fundo. E transformam suas palavras para se adequarem a seus modos de pensar.
Um lembrete: não há como julgar nenhum deles sem se queimar.
Sei que neste mundo onde as personalidades são mais importantes que as individualidades, significado e significante caminham a quilômetros de distância.
Se a ideia não se adequa ao ego, ao momento, à necessidade, é bem provável que se enquadrem no que costumamos chamar de heresias.
Os raros leitores ilesos são aqueles que tocam, entendem e compreendem exatamente o que você quis dizer em cada oração.
O significado chega às suas mentes como se fosse por telepatia.
Eles passeiam pelo pomar de seus textos e conseguem voltar sem se deixarem prender aos simbolismos, alegorias e alusões que toda escrita carrega.
Do fruto, extraem a essência e a guardam com maestria em sua memória, em um lugar onde podem acessar aquele conhecimento gravado sem os julgamentos comuns aos hereges, loucos ou mortos.
Eles passeiam pelos parágrafos, frases, palavras e vírgulas sem se deixarem intimidar pelo perfume ou pela cor dos frutos, porque sabem que as árvores são, antes de tudo, sementes.
E tudo o que vem depois funciona como uma espécie de holografia, uma ilusão.
Coloque isto em seu coração: a transformação do leitor ideai reside justamente nas sementes.
Não é no texto, não é no uso dos verbos, do sujeito ou dos adjetivos.
Nem mesmo nos fatos ou nas personagens.
As sementes estão nas ideias.
E para extrair cada semente é necessário um aprofundamento na árvore como um todo.
Esta “educação” do leitor é inversamente proporcional à do escritor.

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Se a sua escrita é literal e rasa, você está morto.
Se ela é repleta de imagens metafóricas e simbólicas que não levam a lugar nenhum, você pode ser considerado um escritor sem juízo ou louco.
Se a sua escrita consegue mergulhar no pomar das mensagens alusivas, você terá muitos leitores, mas a heresia rondará suas ideias.
E seus leitores saberão se aproveitar disto para seus próprios fins sem se lembrarem onde leram ou o porquê.
Quando você escreve de forma “ilesa”, o texto transcende a mente racional, emocional e instintiva.
E toca fundo na essência de quem te lê.
Mais do que isto, você planta uma semente que se transformará em uma árvore frondosa de pensamentos.
É isto que sempre quero dizer com “transformar o leitor”.
Se seu livro não for capaz de transformar neste nível, você pode até ser bem-sucedido como escritor.
Mas nunca será um Shakespeare.


Escrever ou não escrever? Eis a questão!

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