Reescrevendo Deus

O tema da vez do Reconstruindo Palavras é sobre o maior Escritor do Universo…

“DEUS”!

Antes de mergulharmos na reconstrução do termo, gostaria de deixar bem claro que respeito profundamente todas as crenças e religiões.

O objetivo aqui não é questionar Deus, mas mergulhar na etimologia do termo e comparar os significados em caminhos espirituais, filosóficos e, “por que não?”, científicos.

“DEUS” tem sua origem no latim e significa “entidade superior” ou “ser supremo”.

O termo manteve a mesma grafia na língua portuguesa.

De início, era usado para descrever todas as deidades e, com o tempo, passou a ser usado como um substantivo próprio, assim como ocorreu com o termo germânico GOD.

O latim DEUS virou THEOS (θεός) no grego.

A palavra deriva do protoindo-europeu DEIWOS, cujo significado é “celeste” ou “brilhante”.

No Sânscrito, virou DEVA (देव), cujo significado também é “celestial” ou “algo de excelência”.

Nos Vedas, todos os seres sobrenaturais eram chamados de DEVAS.

A palavra Deus hoje mais confunde do que ilumina.

Por três razões:

Primeiro por conta do antropomorfismo inerente, Deus culturalmente remete a uma individualidade, a uma personalidade e até mesmo ao gênero masculino.

Imaginamos um velhinho barbudo distribuindo benesses para quem é bom e punindo quem é mau.

Segundo porque o significado “Celeste” remete a “algo” que está no céu, o que é extremamente limitador.

E terceiro, porque o termo é reducionista, condensa o que não pode ser condensado.

Como exemplo disto, “Deus” foi usado como tradução para todas as menções às forças criadoras contidas na Torah, que corresponde ao Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia.

São Jerônimo de Estridão, em sua tradução da Torah para o latim, conhecida como Vulgata, traduziu todos os termos, como o TetragramaElohim e outros referentes às Consciências Supremas, por Deus.

O antropomorfismo também ganhou ainda mais força com os termos Adon e Adonai, que significam SENHOR.

Esta simplificação causou grandes perdas no entendimento de cada uma destas forças.

Leia:  Simplificação e Outras Falácias

E quais são elas?

O Tetragrama hebraico, cuja correspondência no Sânscrito é BRAHAMAN, significa O ABSOLUTO, a origem e raiz de toda a consciência que evolui neste mundo.

O termo é impronunciável segundo os Judeus.

Esse conceito de impronunciável, geralmente associado a uma proibição, está mais ligado à impossibilidade de definição de “algo” que é absoluto e infinito.

É impronunciável, porque nossa consciência limitada é incapaz de alcançar qualquer significado para este ilimitado infinito absoluto.

A leitura do Capítulo 10 do Bhagavad Gita pode te dar uma vaga ideia desta infinitude.

Elohim, que corresponde a Īśvara no Sânscrito, é o conceito desta consciência como um SER, a força criadora, o CRIADOR.

É a “FONTE” de todo o CONHECIMENTO.

Não o conhecimento de um idioma ou de uma matéria específica.

Uma boa tradução para esta força seria NATUREZA, a Inteligência que faz com que você, um bicho, um rio e uma flor coexistam de forma harmônica e equilibrada.

Do Tetragrama e Elohim surge ADAM, a Consciência Humana, o Homem Primevo.

Adam corresponde ao Sânscrito Ātman, uma espécie de CONSCIÊNCIA COLETIVA ÚNICA.

Vou aproveitar e continuar descendo mais um pouco e chegar a ISRAEL, que no Sânscrito corresponde a Jīva, a CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL do homem.

Israel significa “DEUS PREVALECE”, ou melhor, “A CONSCIÊNCIA PREVALESCE”.

Mas prevalece sobre o quê?

Sobre o ANIMAL, sobre o VEGETAL e sobre o MINERAL, as três consciências mais restritas abaixo do Reino HUMANO.

Prevalece sobre os Instintos, sobre as Emoções e até mesmo sobre a Razão.

A história bíblica de Jacó, que se torna Israel após lutar com um “anjo”, é um código para a transformação do homem animal no homem divino, um ser mais consciente.

Para mim, então, a melhor tradução para DEUS é “Consciência Única”.

Esta Consciência pode ser dividida em estágios, os quais costumamos chamar de TRINDADE:

Elohim ou Ishvara, a CONSCIÊNCIA CRIADORA.

Adam ou Atman, a CONSCIÊNCIA COLETIVA.

Leia:  Escrever é Contemplar

Israel ou Jiva, a CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL.

Que se somam às subconsciências e inconsciências dos reinos animal, vegetal e mineral.

Todas incluídas na inominável CONSCIÊNCIA ABSOLUTA.

Há ainda um conceito além desta Consciência, que os cabalistas chamam de EIN SOF e os Vedas denominam PARABRAHAMAN, entendida como Deus antes de qualquer manifestação.

A Trindade também pode ser reproduzida no homem por MENTE, EMOÇÕES e INSTINTOS, já que filosoficamente assim como é em cima, é em baixo.

Segundo o cientista americano Robert Lanza, tudo seria dotado de uma espécie de protoconsciência, uma centelha da consciência superior.

Essa teoria que dá uma nova dimensão para a própria teoria evolutiva de Darwin.

Já fomos seres protoconscientes, uma sopa de amebas que deu origem à vida.

A evolução nos tornou seres instintivos, dotados apenas de um cérebro reptiliano, aquele que REAGE por instinto para a sobrevivência da espécie.

Depois, nosso cérebro ganhou mais um módulo, chamado de sistema límbico ou mamífero, aquele que SENTE, a camada protetora da individualidade, também conhecida como Ego.

Até que ganhamos o córtex pré-frontal, também conhecido como cérebro primata, aquele que PENSA, responsável pela evolução da própria CONSCIÊNCIA.

Há aproximadamente 10 mil anos, a protoconsciência se tornou CONSCIÊNCIA no homem.

E “inventamos” a ESCRITA, a porta de entrada para nos tornarmos seres coletivos.

Quando escrevemos, vamos além dos três cérebros e usamos a INTUIÇÃO, nossa consciência mais próxima da CONSCIÊNCIA COLETIVA.

É de lá que veem as HISTÓRIAS e os MITOS.

Da Consciência Criativa vêm os ARQUÉTIPOS.

Por isso, ESCRITA e MEDITAÇÃO estão tão ligadas.

Ambas utilizam nossa Glândula PINEAL, o quarto cérebro na cadeia evolutiva, a sede da intuição, ou como dizia Descartes, “A SEDE DA ALMA”.

Quem ou o que é DEUS para você?

Deixe sua resposta nos comentários.

Assista a outros vídeos da série RECONSTRUINDO PALAVRAS no canal do Youtube e inscreva-se!

Um forte abraço e até a próxima!

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