fbpx

Vender Não é o Fim, Mas o Começo da Jornada do Autor

Há quem considere o ato de escrever como a única atividade necessária para a carreira literária.

Quando o assunto chega à venda dos livros, narizes se contorcem, mercado e marketing são indignos da sua atenção.

Eu discordo veementemente dessa visão e o objetivo desse post é continuar desconstruindo esse mito, um trabalho que venho fazendo há algum tempo.

O ato de colocar um ponto final no seu texto não é e nunca será o fim da linha.

Vender o livro deve ser encarado como o início de uma nova etapa, extremamente necessária, na jornada de um autor.

Seja você editado, seja independente.

Vender é Crucial

A realidade é que, sem vendas, todo livro permanecerá no limbo, não importa quão bem escrito seja.

Vender é a atividade que permite que ele chegue às mãos dos leitores, gerando impacto, críticas e, consequentemente, receitas.

É nessa parte que alguns escritores fumegam. E escorregam.

Sim, você pode doar seus livros, apesar de eu achar que até nesses casos, o destino da doação deveria ser outro.

Eu falo disso nesse post aqui, sobre porque você nunca deve dar seu livro.

Comecemos com a Psicologia…

A teoria da autodeterminação, desenvolvida por Edward L. Deci e Richard M. Ryan na década de 1980, aborda as motivações humanas e da personalidade.

Ela sugere que as pessoas são mais motivadas quando suas atividades estão alinhadas com suas necessidades intrínsecas de competência, autonomia e relacionamento.

O reconhecimento intelectual fala diretamente à necessidade de competência e de relacionamento intelectual com outros.

Já o aspecto financeiro se alinha com necessidades mais extrínsecas, como segurança, conforto e, em alguns casos, status.

Embora o dinheiro possa não satisfazer necessidades intrínsecas, ele fornece os meios para alcançar outros objetivos de vida.

Por exemplo, a segurança financeira pode permitir que você dedique mais tempo à escrita ou à pesquisa, ou mesmo invista em melhores recursos para aprimorar sua obra.

Enquanto o reconhecimento intelectual pode alimentar sua paixão e senso de propósito, o aspecto financeiro atua como um facilitador que amplia suas opções e oportunidades.

Assim, é benéfico não desconsiderar inteiramente o valor financeiro, mas sim integrá-lo de forma equilibrada aos seus objetivos mais amplos.

Não quero cometer o pecado da generalização.

Cada escritor é movido por um conjunto único de motivações e circunstâncias.

Porém, se você notar essa tendência de valorizar o reconhecimento intelectual em detrimento do financeiro, considere-a como uma janela para a complexa psicologia da criatividade e da realização.

Você já parou para se perguntar realmente por que há tanta resistência em conjugar arte e mercado?

Antes do século XXI, o patrocínio das artes vinha de diversas fontes, cada uma com seu próprio conjunto de motivações e impactos na produção artística.

Na antiguidade e na Idade Média, o patrocínio frequentemente vinha da Igreja e da realeza.

Durante o Renascimento, famílias ricas e influentes, como os Médici na Itália, tornaram-se grandes mecenas das artes.

Ao entrar na era moderna, o patrocínio expandiu-se, incluindo o Estado e instituições públicas, a versão 2.0 da realeza.

No século XX, vimos também o surgimento de patrocínios corporativos, onde empresas investem em arte como parte de sua estratégia de marketing ou responsabilidade social.

E onde entra o autor nessa história?

Pensa bem:

Qual é o objetivo da construção do estereótipo do escritor como um profissional fracassado, beberrão e excessivamente emotivo?

Isso foi alimentado pela romantização do sofrimento, onde a “verdadeira arte” só pode ser criada à custa do bem-estar físico e emocional do artista.

O movimento Romântico do século XIX, por exemplo, exaltava o sofrimento e a paixão como ingredientes essenciais para a criação artística autêntica.

Estamos em pleno século XXI e há ainda quem pense dessa forma.

Então, vou responder de maneira mais clara:

A ideia de que a busca por recompensas monetárias corrompe a integridade física foi reforçada por uma longa tradição de mecenas e patrocinadores, que financiavam artistas, permitindo-lhes trabalhar sem a necessidade imediata de renda.

Eu lucro e te dou o mínimo para sobreviver e você escreve, OK?”

Enfim, fomos muito mal acostumados, ao longo dos séculos, a nos contentarmos com as migalhas do ecossistema literário.

Para mim, a analogia mais próxima sobre receber 10% por qualquer esforço, seja ele intelectual ou físico, é a do trabalho escravo.

Leia:  O Sucesso tem uma Fórmula

No entanto, não quero ser ingrato ou um crítico chato de quem pensa o contrário.

E nem de muitos bons mecenas que existem por aí.

O bonito do mundo é sua diversidade e complexidade.

Muitos escritores são altamente profissionais, financeiramente bem-sucedidos e bem ajustados emocionalmente.

Se bem, que há quem diga: “se fez sucesso comercial, é ruim!”

Mais importante é não deixar que estereótipos culturais limitem sua compreensão ou seu engajamento com a profissão.

Desafiando a Crença Popular

Indo mais fundo, existe um pensamento completamente equivocado de que o marketing e a venda de um livro são atividades que desviam o escritor de sua verdadeira paixão: a escrita.

Essa perspectiva é não apenas errada, mas também prejudicial para sua carreira literária, principalmente se você está começando.

Eu costumo dizer, e não me canso de repetir, que escrever é uma arte, publicar é um negócio.

A crença popular tende a separar a escrita da venda como se fossem duas entidades completamente diferentes.

Eu encaro como dois lados da mesma moeda.

Se você trata a venda como uma extensão da sua narrativa, em vez de algo completamente separado, você começa a enxergar oportunidades onde antes só via obstáculos.

Veja bem: não há nada demais em escrever por escrever, como um ato de liberdade, como um hobby, como terapia.

Muito pelo contrário, escrever faz muito bem, te conecta com sua essência.

Porém, a partir do momento em que você deseja publicar, a coisa muda de figura.

Pense no reconhecimento como a continuação da história que você escreveu.

A venda é onde essa história encontra seu público e começa a viver fora das páginas.

E dos seus temores…

O Medo de Vender

Não quero negar que a venda de um livro representa uma mudança significativa no papel do autor.

Mas o trabalho não precisa acabar quando você escreve a última palavra.

Ele precisa se transformar.

Tente fazer uma transição suave entre o interno e o externo, na qual você passa de narrador para embaixador da sua própria obra.

A verdade é que essa transição geralmente é permeada por um complexo conjunto de emoções, o que inclui o medo.

E são vários, a começar pelo medo da exposição e da vulnerabilidade.

O ato de escrever pode ser íntimo e introspectivo.

Quando você avança para a etapa de venda, está convidando “o mundo” a interagir com essa narrativa pessoal.

Você teme que suas ideias e inspirações, tão cuidadosamente elaboradas e criativas, sejam mal interpretadas ou desvalorizadas.

Há também o medo de rejeição social.

Na fase de embaixador, o autor enfrenta o potencial da rejeição não apenas de suas ideias, mas também de sua habilidade em comunicá-las de maneira eficaz.

Ninguém quer ouvir que seu livro não é bom o suficiente ou não merece atenção.

Por incrível que pareça, há até o medo do sucesso, o que parece contraintuitivo, mas real.

Receber atenção pode criar expectativas para futuros trabalhos e para o próprio autor como figura pública.

Quem nunca se deparou com um filme ou livro em que o protagonista é um escritor que alcançou o sucesso com um livro e agora se rasga por dentro para tentar repetir?

A visibilidade traz consigo a pressão para manter ou superar o nível de qualidade e impacto, o que é assustador.

Por fim, há, como já mencionei mais acima, o medo da perda de autenticidade.

Para alguns escritores, a palavra dinheiro está associada a uma espécie de “venda” de si mesmo.

O ato de comercializar a própria obra pode ser visto como uma diluição do seu valor intrínseco, um compromisso com a comercialização em detrimento do conteúdo puro e intelectual.

Uma tremenda armadilha do ego, cultivada por anos de condicionamentos de mecenas mercenários.

Somente a profunda compreensão de que vender é, de fato, uma extensão da narrativa, pode ajudar a superar esses medos.

Coloque isso na sua cabeça: somente as vendas farão com que sua história alcance as pessoas.

Encare isso como mais um capítulo da mesma história.

Ao encarar a venda como uma continuação da sua jornada narrativa, você não apenas amplia o alcance da sua obra, mas também continua a cumprir seu papel.

 Transformado, sim, mas igualmente vital.

Como Isso Funciona na Prática?

A primeira coisa a fazer é compreender seu leitor ideal, seu público-alvo.

Leia:  7 Razões Para Publicar Seu Livro Sem Uma Editora

Dizer que um livro é para todos não é apenas soberba, mas preguiça de pensar.

Eu até compreendo esse sonho nos casos em que o umbigo do autor é maior que o mundo, mas infelizmente isso não vai te levar a lugar algum.

Responda: que tipo de pessoa vai realmente ler o que você escreve?

Escrever para o Universo é lindo.

Mas se esse realmente é o público de seu livro, seus investimentos para fazê-lo chegar às mãos dos leitores terão que ser “galácticos”.

O que quero dizer é que tanto o esforço criativo quanto o mercadológico requerem direcionamento.

Você precisa de marketing orientado, usar as redes sociais e anúncios para garimpar realmente quem quer te ler, anunciar para públicos realmente interessados no seu gênero, subgênero, tema, premissa.

Sim, não basta dizer que seu livro é para todo amante de ficção científica ou para todo mundo que gosta de um bom romance, nem mesmo para apreciadores da ficção literária.

Deixa de preguiça e vá mais fundo na identificação do leitor ideal de seu novo livro, depois do próximo e assim por diante.

Defina seus leitores ideais com base em dados demográficos como idade, gênero e localização. 

Avance para aspectos psicográficos como interesses, problemas e comportamentos. 

Adicione também canais de comunicação preferidos.

O Poder do Longo Prazo

Se você abordar a venda com a mesma seriedade que aborda a escrita, você estará investindo em um ciclo de sucesso sustentável.

Também sei que o termo “sucesso” varia de gente para gente, mas creio que você me compreendeu.

As vendas iniciais são apenas o começo.

O verdadeiro valor vem das pessoas que continuam a comprar seus futuros trabalhos.

Quando você conquista a confiança do seu público com um trabalho bem executado, de alta qualidade, cria-se uma espécie de contrato tácito.

Este público não apenas retorna para comprar suas futuras obras, mas também se torna uma parte integral de sua rede de apoio.

Eles passam a ser defensores da sua marca de autor, divulgando seu trabalho através do boca a boca, das redes sociais e até mesmo por meio de críticas e recomendações positivas.

Isso ativa um ciclo virtuoso, que alimenta e amplia seu impacto, abrindo portas para novas oportunidades, parcerias e até mesmo fontes adicionais de receita, como palestras, consultorias, colaborações, direitos secundários.

“Ah, eu não quero que meu livro vire filme!”

Está bem, você pode escrever um livro, guardá-lo em um cofre e depois ir capinar um lote.

A visão de longo prazo na carreira também oferece uma vantagem psicológica: a resiliência.

Ao focar no desenvolvimento contínuo e na qualidade consistente, você constrói uma espécie de colchão contra as críticas ocasionalmente desfavoráveis.

O novo livro foi mal recebido em relação ao anterior?

Parta para o próximo.

Conclusão

Vender não é um evento isolado, mas sim um elo contínuo em uma cadeia de esforços conscientes, que se estendem muito além do lançamento inicial.

Trata-se de uma etapa natural e crucial em sua trajetória literária.

Busque compreender a venda não apenas como uma forma de medir o sucesso, mas também como um mecanismo crucial para ampliar o alcance da sua voz como autor.

Abandonar a ideia de que vender é, de alguma forma, inferior ou separado do ato de escrever é um passo crítico para o sucesso a longo prazo.

A não ser que você realmente adore a imagem do escritor que vive de brisa.

Ao adotar uma perspectiva menos emotiva, você não apenas torna o processo de venda mais eficaz, mas também mais gratificante.

Em vez de ver a venda como um mal necessário, você começará a vê-la como uma oportunidade de expandir e enriquecer sua narrativa, alcançando novos públicos e criando um ciclo virtuoso de sucesso.

Aborde-a com a seriedade que merece e você obterá uma colheita abundante no futuro, inclusive nos campos intrínsecos.

Assim, armado com esse novo ângulo, está na hora de reescrever a narrativa da sua carreira.

Foque no processo criativo, que tem muito tem emoção e razão, mas não negligencie a praticidade que vai garantir a sua sustentabilidade no longo prazo.

Escreva e venda, se você acredita que sua história merece ser lida.

Recomende este artigo:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  • Livraria

    Conheça os e-Books sobre escrita criativa, escrita analítica e marketing literário de Eldes Saullo.

  • Academia

    Avance 10 anos em sua carreira com treinamentos profundos sobre escrita e marketing literário.

  • Casa do Escritor

    Publique seu livro com a qualidade de uma editora tradicional e as vantagens da publicação independente.

Leia Também...

sabedoria-do-rei-salomao
Reescrevendo a Sabedoria
Você sabe o que o Rei Salomão tem a ver com o Deus...
perguntas-do-escritor
10 Perguntas Que Você Deve Se Fazer Antes de Escrever um Livro
Você sabe qual é o fator mais importante de um livro?...
como-escrever-um-livro-de-autoajuda
Como Escrever um Livro Visceral de Autoajuda
Autoajuda é um segmento tão controverso quanto um filme...
memorias-de-ninguem-chparise
O Fascínio de Despertar a Atenção do Leitor
C.H.Parise sempre foi, desde menino, um observador...
O-QUE-E-AMOR
Reescrevendo o Amor
Um escritor que se preza precisa amar o que faz. Por...
o-velho-e-o-mar
Anatomia de um Best-Seller: Parte III - Personagens
Como construir personagens humanos, realistas e que...
×